segunda-feira, 7 de novembro de 2022

Fénix





O karma da Fénix...
Sempre que morre consegue reviver, levantar-se sobre as suas próprias cinzas e abraçar o céu, como se todo ele fosse inteiramente seu.
Morre e renasce vezes sem conta,
cai e volta a voar.

Letras errantes

   A vila onde sempre viveu e que a viu nascer de repente tornou-se-lhe irreconhecível, como se fosse a primeira vez, como se estivesse de passagem, de visita.
Já não tinha algo que pudesse dizer que era seu, que pudesse sentir-se aconchegada. Não reconhecia os aromas nem as pessoas, nem as casas nem as ruas, ou os jardins. De cabeça cheia e coração vazio procurava o que tinham arrancado de si.
Confusa e perdida pelas paredes de um aconchego que outrora brandava aos céus, a plenos pulmões, que lhe pertencia, desejou sair dali, desejou uma nova vida, uma nova "ela", um novo eu.


   Por que motivo nos querem moldar àquilo que não somos, nem nunca seremos? Por que motivo querem que façamos algo que não queremos? Qual o motivo para termos que agir de uma forma que não é a nossa, que nunca foi e nunca será?
Somos seres individuais, com personalidades individuais, com caracterizações individuais e que, por incrível que pareça, com reações individuais. Todos nós temos vivências diferentes, todos nós perdoamos de diferentes maneiras. Uns esquecem, outros não. Uns perdoam e fica tudo bem, outros perdoam e não esquecem.
E, às vezes, um perdão ou um agradecimento é tudo! E no entanto é tão difícil, tão raro de se ouvir, de se sentir… É tão difícil mergulhar na nossa consciência e admitir o que está correto…


   Mais um dia… Cada um que passa agradece a si mesma a força que encontra todos os dias por ter vivido mais uma tempestade. Quase diariamente recorda os sonhos reais em que tinha tudo, em que era feliz e a sua vida estava completa, em que havia uma harmonia concreta e palpável entre a vida profissional e pessoal… Recorda, com o coração bem pequenino e apertado, os dias em que o seu sorriso era verdadeiro e cheio de gratidão! Rápidos foram esses flocos de felicidade, milésimos de segundos numa eternidade mortal.
Mais um dia que nasce, para agora viver uma mentira, para novamente remexer no baú de máscaras cheio de pó, e colocar a de "feliz".


   Hoje começou a chover. Cada gota com um som diferente, cada uma com um tremelicar único, como se de uma impressão digital se tratasse.
Em todas elas um pedaço de ti vinha agarrado, a tua imagem compunha-se ao tocarem no solo, e eu sonhava. Sonhava que conseguia novamente tocar-te, alcançar-te e abraçar-te. O cheiro a terra molhada iludia-me os sentidos e fazia acreditar que era o teu perfume que impregnava o ar. Ouvia… Ouço a tua voz misturada com a melodia das gotas, um cantar que me chama e enfeitiça a mente.
A tua imagem… O teu corpo completo nos meus olhos, ao alcance de um passo. A chuva termina a sua obra prima e tu ganhas vida.

Às vezes

   Às vezes dou por mim a olhar para trás, a ouvir novamente as risadas reais e naturais da felicidade.
   Às vezes passo semanas inteiras a pensar o que seria de mim e como seria, se não te tivesses atravessado à minha frente (ou batido nas costas), onde estaria eu?
   Às vezes, quando a saudade aperta e uma lágrima revela ameaçar cair, respiro fundo e olho o horizonte. Não porque tenha medo de chorar, mas porque o sentimento é de tal forma grotesco, que dificilmente me recompunha.
   Às vezes preciso muitas vezes de ti, às vezes preciso muitas vezes de não dizer nada e ser compreendida, percebida. Às vezes preciso muitas vezes só daquele abraço, às vezes… Preciso muitas vezes do "estou aqui" e tudo fica bem.

Fénix

O karma da Fénix... Sempre que morre consegue  reviver, levantar-se sobre as suas próprias cinzas e abraçar o céu, como se todo ele fosse in...