quinta-feira, 31 de março de 2016

Solidão própria

   Uma relação de amizade trespassa as barreiras do saudável quando um dos lados se torna "dependente" do outro. Inconscientemente estaremos a ficar, ou já ficámos, doentes por atenção? Habituamos-nos àquela rotina de todas as manhãs sermos acordados pela luz do visor do telemóvel e todas as noites essa mesma luz ser a última a adormecer.
      Pode não ser o correto a fazer, é um facto, no entanto parece que nos sentimos mais amados, que temos alguém que sente a nossa falta e que somos, de certa forma, importantes na sua vida. O nosso ego conquista novos horizontes, toda a atenção e carinho que nos dão faz o olhar brilhar e a realidade ganha um sabor melhor que os sonhos! Todavia, a longo prazo revela-se que afinal não é bem assim, a realidade não é melhor que o mundo idealizado por nós.
      Por muitos afectos que recebamos daqueles que amamos e que nos são essenciais, do que serve se não tivermos amor próprio? Se não gostarmos de nós mesmos, qual é a necessidade de recebermos aqueles gestos? Para nos enganarmos? Acreditando que é o suficiente e que com o tempo nos habituamos à situação, como uma rotina? E se, de repente, as pessoas nos deixarem e partirem para longe? Onde estará a "dose" de carinho e afecto? O corpo entra em falência porque não sabe alimentar-se sozinho, não consegue olhar para si e ver o quanto especial é! Porque tornou-se "dependente" dos corpos de fora e acomodou-se à ideia de que "tenho quem me diga e mostre o que preciso, por isso, não preciso de fazer mais nada".
      Neste momento, talvez um pouco tarde, dá-se conta de que se adoeceu... o amor próprio desvaneceu-se na totalidade e o que sobra é um imenso vazio.      
      

"Não Se Encontra O Que Se Procura", Miguel Sousa Tavares





«"(...) Você tem uma grande defesa contra o mundo e contra tudo: escreve.

E  escrever é como construir uma fortaleza contra os ataques de fora. (...)"»

quarta-feira, 16 de março de 2016

Prazo de validade: não te habitues.

   A vida dificilmente me deixa sonhar alto, quando estou prestes a sair do abismo rapidamente desprende-se o pedaço de terra que agarro, tal Sísifo a erguer o pedregulho penhasco acima, e todo o meu corpo se despenha. Volto a erguer-me do solo e mais uma vez rumo em direcção ao cume, no entanto com as forças fragilizadas.
   Não sei explicar ou demonstrar o quanto quero ficar bem, recuperar deste turbilhão de emoções indefinidas e confusas, como se fosse bipolar, voltar a ser a pessoa que era, voltar a ter uma personalidade única e ter o espírito em paz. Muitos dizem que para isso acontecer tenho que me afastar dos problemas dos que me rodeiam, mas assim que raio de amizade seria a nossa? A minha? A deles? Os amigos não servem só para as gargalhadas ou para as festas, mais do que a diversão os amigos são o porto seguro onde atracar o barco, o ponto luminoso que nos guia no meio da tempestade e o abraço que nos recebe sussurrando que "vai ficar tudo bem, porque no fim tudo acaba bem".

quarta-feira, 9 de março de 2016

Reflexão

Estar distante de alguém  nunca doeu tanto como agora, escassas foram as ocasiões que me dei a conhecer tal como sou, que ao fim de uns momentos a defesa da muralha tenha diminuído. Em tempos optei por me afastar de tudo e de todos, não criar nenhuma relação ou empatia e viver a minha própria vida, talvez porque sabia, de alguma forma,  que aquele momento iria acabar e as pessoas com quem estive rumariam para longe, as oportunidades de nos vermos seriam menos e cada um encontraria uma nova rotina, uma nova mas antiga vida.

sábado, 5 de março de 2016

Perda do equilíbrio

O desespero estampado no rosto assombra-lhe a alma, no espelho vê-se incapaz de observar as suas feições. Os seus traços desfiguram-se com os dias e a chama perde força, não falta muito para esta se apagar, também o seu calor não aquece mais, a falta de apetite leva-lhe as forças restantes e as palavras não a salvam.
Sente-se repugnada pela sua própria imagem e evita visualizar o seu reflexo nas superfícies. Em si, não consegue encontrar nada senão motivos para cometer uma última loucura.

Fénix

O karma da Fénix... Sempre que morre consegue  reviver, levantar-se sobre as suas próprias cinzas e abraçar o céu, como se todo ele fosse in...