segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Inocente brincadeira

   A conversa flui naturalmente e os risos são muitos, os que se ouvem e aqueles que ficam escondidos, no canto dos lábios. Uma palavra aqui, uma música ali e um flash passa em frente aos meus olhos. O ambiente está animado, o diálogo é interessante e umas provocações são trocados de vez em quando, primeiro por palavras, depois por gestos, toques, olhares... O corpo aquece, a imaginação trabalha no máximo, espara-nos um jogo perigoso.
   Aparecem os sonhos ao dormir, a vontade inconsciente para o ter e não largar, a dependência de sentir prazer, de o possuir e ser possuída, o querer deslizar no corpo transpirado e duro, ver até onde leva a mente e a força um do outro... 
   Estarei apenas a gostar da companhia, ou de algo mais?

Pensar em alto

"É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer, porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo."


Clarice Lispector, in Perto do Coração Selvagem

sábado, 22 de agosto de 2015

"Deixa O Grande Mundo Girar", Colum McCann

O meu irmão tinha a pele clara, cabelo escuro, olhos azuis. Era o tipo de criança para quem toda a gente sorri. Ele podia olhar para uma pessoa e fazer com que ela comunicasse. As pessoas apaixonavam-se por ele. Na rua, as mulheres despenteavam-lhe o cabelo. Operários davam-lhe um soco no ombro com suavidade. Ele não fazia ideia de que a sua aparência amparava as pessoas, as fazia felizes, lhes arrancava as suas ânsias improváveis - ele, simplesmente, seguia em frente, alheado.

Infância

O mundo nos dedos de uma criança...
O toque, a magia, a fantasia que daí provém...
O acreditar de que todos os sonhos se concretizam e que as dificuldades são os crescidos que as criam.
O olhar de uma criança: a observação de um céu estrelado dentro de um ser frágil...

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Desaparecer por instantes...


Se por momentos eu fosse embora, de vez, sem puderes voltar a ver-me, sentir, tocar ou ouvir a minha voz, quando falasses comigo, sentirias... sentirias a minha falta? Ou desvaneceria com o passar dos dias?

Menos expressão, mais escrita

Escrevo o que não consigo verbalizar, escrevo o que não consigo proferir, escrevo o que não consigo entoar. Enquanto uns chamam de vergonha, outros chamam de timidez, ou então falta de coragem. Eu chamo pensar demais e as palavras, assim, não fluem espontâneamente.
Gostava de ter mais jeito para me expressar, não por gestos ou feições, mas verbalmente, sem entraves ou engasgos... Todavia, não é fácil, é uma batalha que travo de forma a que entendam o que componho ou penso.
Se por um dia pudesse inverter os papéis inverteria - ser menos expressiva e mais escritora - ter as letras na ponta dos dedos e não na gaiola da mente, numa libertação encarcerada.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Agridoce

   O ser humano é agridoce... Se começa com risos e partilhas e bons momentos, facilmente acaba com um grande rasgão no peito, profundo e doloroso como se fosse para não esquecer que o coração não vive sem a cabeça. Em sentido contrário, uma ferida leva tempo para os pontos sararem e esta cicatrizar-se... Todavia, não seria o "mais correto"? Deixarem-nos curar depois de magoados?
   Quando tudo o que queremos é ajudar e se tem cuidado para não prejudicar, a tentativa, num momento ou noutro, é furtada, somos apanhados desprevenidos e sem saber porquê. O mundo é feito de injustiças e os que sofrem não são os que mentem. Quem sofre são aqueles que estão constantemente presentes, aqueles que escolhem serem felizes se o outro for feliz; ou ficarem deprimidos se o outro estiver deprimido, são uma espécie de "espelho sentimental"... Isto não é uma relação, é sim, uma doença.

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Palavras


Quando as palavras estão numa agitação febril dentro da mente e são difíceis de se tornarem coerentes, como se pode passá-las para a escrita? Comigo travo um profundo diálogo e nem uma única frase sou capaz de enunciar, tal é o tamanho da desordem de pensamentos.
No entanto sei o que gostava que ele ouvisse, de vez; no entanto tornar-se-ia real, de vez; no entanto ele está feliz, de vez; no entanto eu estou uma confusão, de novo; no entanto... no entanto quero ouvir uma última vez o som da sua voz a dizer «és a minha pequenina», com aquele carinho e amor meigos, de vez.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Fim


Sou o que não se vê na claridade.
Sou o que jamais voltará a viver.
Sou aquilo que não se deseja e se tem.

Filho da noite e amante da escuridão,
sou uma névoa que passa e gela.
Comigo trago a paz e o descanso eterno.

As sombras refugiam-se no meu porto
e numa vénia felicitam esta chegada.
O que me chama é um anjo caído
e não o de asa branca.

Julho 2015

sábado, 11 de julho de 2015

De sonhador a realista

      O ar tornou-se tóxico... O azul que ainda avivava os olhos perdeu-se, o sorriso deitou-se fora, os beijos não se ouviram mais e o cabelo perdeu o seu movimento ao vento. Desapareceu a esperança, a alegria, aquela doçura única só dela, que fazia com que se largassem "Aws!" quando passava. Os amarelos, os laranjas, os vermelhos, todas as cores vivas que transmitiam calor, converteram-se em tons frios, cores que deram passagem prioritária aos pretos, aos cinzas, aos verdes e azuis-escuros, da cor de um dia enevoado, de uma noite sombria.
      Era feliz? Oh, se era! A felicidade estava a seus pés, bastava o estalar de dedos para a ter nas mãos, aconchegada nos seus braços, adorada pela sua bondade. Mas o que terá acontecido a esta personagem? O que aconteceu à perfeição desta criatura com vida? Perguntam bem: onde é que ela está?
      Essa personagem, essa criatura com vida, ainda existe. Está mesmo à vossa frente, somente com uns ajustes aqui e ali. Somente com o pensamento alterado. Com uma maneira de pensar realista, odiosa e justa. Já não há tempo para fantasias, já não há tempo para pensar em contos de "Era uma vez...", já não há tempo para sonhar com príncipes encantados em cavalos brancos. Esses tempos alteraram o rumo. Voaram. Morreram.
      Tornou-se fria aos olhos dos amantes da vida, do prazer que os outros lhe proporcionam. Já não ama. Já não se agarra com unhas e dentes às coisas, aos que passam por ela. Tornou-se forte, desconfiada... distante até! Jurou não mais sofrer por alguém, torná-lo especial. Agora é uma só. Um só coração. Uma só alma. Um só olhar. Uma só vida.

Maio 2012


Fénix

O karma da Fénix... Sempre que morre consegue  reviver, levantar-se sobre as suas próprias cinzas e abraçar o céu, como se todo ele fosse in...